Escritor Gabriel García Márquez morre aos 87 anos

17/04/2014 17h03 - Atualizado em 18/04/2014 12h1

Gabriel García Márquez morre aos 87 anos

  • Corpo será cremado, segundo informações da família
  • Ainda não há informações sobre a causa da morte, mas o autor de 'Cem anos de solidão' chegou a ser internado neste mês por conta de uma infecção
  • Presidente da Colômbia decretou três dias de luto oficial pela morte do escritor
O GLOBO (EMAIL)
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O escritor Gabriel García Márquez em foto tirada no dia de seu aniversário de 87 anos, em 6 de março Foto: EDGARD GARRIDO / REUTERS
O escritor Gabriel García Márquez em foto tirada no dia de seu aniversário de 87 anos, em 6 de março EDGARD GARRIDO / REUTERS
RIO - O corpo do Nobel de Literatura, o colombiano Gabriel García Márquez, que morreu nesta quinta-feira na Cidade do México, aos 87 anos, será cremado, informou sua família em um comunicado.
"Os restos do escritor serão cremados", de acordo com nota lida pela diretora do Instituto Nacional de Belas-Artes, María Cristina García, aos jornalistas de plantão na frente da residência do escritor. María Cristina, que leu o comunicado a pedido da família do escritor, não especificou a data da cremação, nem o destino final dos restos mortais de Gabo, mas antecipou que, na funerária onde o corpo se encontra, "não serão realizadas honras fúnebres".
Ainda não há informações sobre a causa da morte, mas o autor de "Cem anos de solidão" chegou a ser internado no dia 31 de março, apresentando vários sintomas característicos de uma pneumonia, assim como um quadro infeccioso e desidratação.
Primeiro foi atendido em casa, mas como não melhorou, os médicos optaram pela internação. Mais tarde, recebeu alta. Ao saber da movimentação de jornalistas em frente à sua casa, Gabo teria dito: “Eles estão loucos? O que fazem lá fora? Que vão trabalhar, façam algo útil”.
Colômbia terá três dias de luto
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, decretou três dias de luto nacional pela morte de García Márquez.
"Como governo e em homenagem à memória de Gabriel García Márquez, decretei luto nacional por três dias e dei ordem para que todas as instituições públicas em nível nacional hasteiem a bandeira a meio pau, como também esperamos que os colombianos façam isso em suas casas", disse o presidente, em um pronunciamento pela televisão.
Manuel Santos, também afirmou na quarta-feira que o autor não tinha câncer, contrariando informações publicadas pelo mexicano "El Universal" um dia antes. Segundo o jornal, depois de superar um câncer linfático 12 anos atrás, Márquez estaria novamente debilitado pela doença, com metástase no pulmão, nos gânglios e no fígado.
Escritor sofria de ‘demência senil’ desde 2012
Dois anos atrás, em julho de 2012 , Jaime García Márquez , irmão do escritor, revelou em uma conferência realizada em Cartagena, na Colômbia, que seu irmão estava sofrendo de “demência senil”, doença que atinge quase todos os seus familiares.
A declaração foi imediatamente rejeitada pelo titular da Fundación Gabriel García Márquez para el Nuevo Periodismo Iberoamericano, Jaime Abello, que disse que não haver diagnóstico para confirmá-la. A negativa foi reforçado por amigos e colegas do escritor .
Nos últimos anos, as aparições públicas de García Márquez diminuíram. A última foi no dia 6 de março, durante seu aniversário, quando saiu de sua casa para receber parabéns de jornalistas e alguns leitores. Estava com semblante tranquilo e bom humor.
Velório
Os restos mortais do Nobel de Literatura estão em uma funerária do sul da Cidade do México, onde o corpo será velado. Com dificuldades para passar pelo batalhão de jornalistas de plantão, o carro fúnebre partiu da casa do escritor acompanhado de três viaturas policiais e fez um breve trajeto até a funerária J. García López, localizada no bairro de San Ángel.
O falecimento do escritor aconteceu às 14h (16h de Brasília), segundo o Conselho Nacional para a Cultura e as Artes do México (Conaculta). A mulher de Gabo, Mercedes Barcha, e seus filhos, Rodrigo e Gonzalo, ainda não emitiram declarações. Vários amigos da família entraram na casa também sem falar com a imprensa, entre eles o escritor e fotógrafo colombiano Guillermo Angulo.
A assistente-executiva Mónica Hérnandez, de 28 anos, foi a primeira de uma imensa legião de admiradores de García Márquez a deixar flores - um ramo de margaridas - na frente da casa. "É um dos meus autores favoritos. Vim demonstrar meu respeito", afirmou.
García Márquez deixa a mulher, Mercedes Barcha Pardo, e dois filhos.
A trajetória de um gênio latino-americano
Aos 22 anos, Gabriel García Márquez tinha acabado de abandonar a Faculdade de Direito para se dedicar à vida de boêmio literato. Instalado em Barranquilla, no litoral caribenho, flanava por aí de camisa florida e bigode frondoso, lia e escrevia sem parar, sobrevivendo com os trocados que ganhava num jornal local. Um dia veio procurá-lo, na livraria onde batia ponto, uma senhora que ele a princípio não reconheceu. Era sua mãe. Vinha pedir ajuda para vender a casa dos avós, na cidadezinha colombiana de Aracataca, onde ele havia nascido, em 1927, e vivido até 8 anos de idade. O reencontro com a terra natal abriu os olhos do aspirante a escritor para o potencial literário de memórias de família e lendas populares, que alimentariam nas décadas seguintes a obra do ganhador do Nobel de Literatura de 1982. Em sua autobiografia, “Viver para contar”, de 2002, García Márquez recordou aquela viagem como a decisão mais importante de sua vida.
Criado pelos avós, ambos exímios contadores de histórias, García Márquez teve com eles as primeiras lições de narrativa. O avô, Nicolás Ricardo Márquez Mejía, um temido coronel que o neto só chamava de “Papalelo”, descortinou para ele o mundo das relações de poder. A avó, Tranquilina Iguarán, cheia de superstições e histórias de fantasmas, apresentou ao jovem as maravilhas e terrores do folclore. Em dezenas de livros de ficção e não ficção publicados ao longo de seis décadas de carreira, muitos dos quais se tornaram clássicos do século XX, como “Cem anos de solidão”, “O outono do patriarca”, “Amor nos tempos do cólera” e “Crônica de uma morte anunciada”, García Márquez expressou uma visão de mundo que abarcava tanto os meandros da política latino-americana quanto a dimensão fantástica da existência.
A capital de um universo ficcional
Esse estilo começou a se consolidar em seu primeiro romance, “A revoada”, publicado em 1955. Foi nele a primeira aparição da cidade fictícia de Macondo, que criou ainda sob o impacto do regresso a Aracataca. Assim como sua terra natal, Macondo era um povoado colombiano empobrecido, dominado por uma companhia bananeira, mas com um rico repertório de histórias locais. A cidade surgiu em vários outros livros do escritor, como “Ninguém escreve ao coronel” (1961) e “Cem anos de solidão” (1967).
Foi este último que projetou o nome de García Márquez no cenário mundial. Aos 40 anos, ele já havia lançado outros cinco livros de ficção, mas nunca tinha ganhado um tostão com literatura. Mantinha-se como jornalista, primeiro em vários veículos colombianos, como “El Universal”, “El Heraldo” e “El Espectador”, onde aproveitava as horas vagas para escrever ficção (nessa época descobriu Kafka, que o impressionou muito, pois não imaginava que era permitido escrever sobre coisas como um homem que vira uma barata). Depois foi correspondente na Europa, nos Estados Unidos e no México, onde se instalou no início dos anos 1960 com a mulher, Mercedes Barcha, e o filho Rodrigo. Na capital mexicana, em 1964, nasceu seu segundo filho, Gonzalo.
Foi nessa época, enquanto dirigia numa estrada mexicana, que o escritor vislumbrou aquela que seria a frase de abertura de “Cem anos de solidão”: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. Gostava de dizer que, depois disso, deu um cavalo de pau, voltou para casa e se trancou pelos anos seguintes para escrever o romance que conta a história de sete gerações da família Buendía.
“Cem anos de solidão” acompanha a intrincada árvore genealógica dos Buendía, na qual o autor parece se divertir com a repetição de nomes (Aureliano, Amaranta, Remedio, José Arcadio), em uma narrativa repleta de personagens e situações fantásticas: o patriarca José Arcadio, fundador de Macondo; Úrsula Iguarán, a mulher que vive mais de 115 anos; José Arcadio Segundo, único sobrevivente do massacre dos grevistas da companha bananeira de Macondo; Maurício Babilônia, sempre envolto em uma nuvem de borboletas amarelas; ou o cigano Melquíades, cujos pergaminhos preveem glórias e tragédias da família.
Com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em cerca de 35 idiomas, “Cem anos de solidão” se tornou não só o livro mais popular de García Márquez, mas também o emblema de uma geração da literatura latino-americana identificada com o rótulo do “realismo fantástico”. A partir de meados dos anos 1960, enquanto o continente ia sendo encoberto pela sombra de ditaduras militares, autores da região alcançaram uma projeção internacional inédita. Além do colombiano, fizeram parte do chamado “boom” da literatura latino-americana escritores como o argentino Julio Cortázar, o mexicano Carlos Fuentes, o cubano Alejo Carpentier e o peruano Mario Vargas Llosa.
Fidel: Identificação política e pessoal
A relação entre García Márquez e Vargas Llosa, também premiado com o Nobel em 2010, se tornou símbolo do “boom” e de suas contradições. A amizade inicial se desdobrou em admiração literária (o peruano publicou em 1971 o elogioso ensaio “García Márquez, história de um deicídio”), mas com o tempo os dois se afastaram, inclusive politicamente. Esquerdista na juventude, Vargas Llosa se alinhou ao neoliberalismo e chegou a concorrer à presidência do Peru, em 1990, quando foi derrotado por Alberto Fujimori. Admirador de primeira hora da Revolução Cubana, García Márquez se aproximou de Fidel Castro e defendeu o regime da ilha em várias ocasiões. Mas a divergência mais famosa entre os dois, em 1976, não teve fundo político: por ciúmes da mulher, Vargas Llosa deu um soco em García Marquez, que saiu com um olho roxo. Nunca mais se reconciliaram.
A atuação política de García Márquez rendeu-lhe admiradores e críticos. Muitos nunca o perdoaram por não denunciar os abusos do regime de Fidel, de quem se tornou amigo. Segundo o biógrafo inglês Gerald Martin, autor de “Gabriel García Márquez: uma vida", o líder cubano achava o escritor “pessimista e fantasioso”, mas gostava de suas observações políticas e sentia-se próximo dele por também ter crescido em uma região dominada pela United Fruit, multinacional americana de alimentos que inspirou a companhia bananeira de Macondo.


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Escritor Gabriel García Márquez morre aos 87 anos

Autor colombiano ficou internado com infecção respiratória e pneumonia.
Ele escreveu 'Cem anos de solidão' e 'O amor nos tempos do cólera'.

Morreu o escritor colombiano Gabriel García Márquez, aos 87 anos, informou o perfil oficial do autor no Facebook nesta quinta-feira (17). A notícia foi confirmada por uma fonte próxima ao escritor à agência Associated Press. Ele ficou internado com pneumonia e infecção respiratória na Cidade do México, onde morava, entre o fim de março e início de abril. García Márquez estava em casa e lutava contra um câncer linfático desde 1999.
Em julho de 2012, o mais novo de seus dez irmãos, Jaime García Márquez, revelou que o autor sofria de demência senil “há alguns anos” e que estava lutando contra a perda de memória. O escritor era casado com Mercedes Barcha Pardo desde 1958. Eles tiveram dois filhos: Rodrigo, que nasceu em 1959, e Gonzalo, nascido em 1962.
Considerado um dos mais importantes escritores do século 20 e um dos mais renomados autores latinos da história, Gabriel García Márquez nasceu em 6 de março de 1927, em Aracataca, na Colômbia. Chegou a estudar direito e ciências políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não concluiu o curso, preferindo iniciar carreira no jornalismo.
Seu primeiro romance, “A revoada (O enterro do diabo)”, foi escrito no início da década de 1950, mas publicado apenas em 1955, por iniciativa de amigos, enquanto ele estava na Europa. Já tendo como cenário a cidade de Macondo, que apareceria em outras de suas obras, o livro tinha como narradores três personagens, um velho coronel, sua filha e o neto, ainda criança. O sucesso internacional, no entanto, veio principalmente após a publicação de seu romance mais famoso, “Cem anos de solidão”, em 1967.
Post no Facebook oficial de García Márquez anuncia a morte do autor (Foto: Reprodução/Facebook/García Márquez)Post no Facebook oficial de García Márquez anuncia a morte (Foto: Reprodução/Facebook/García Márquez)
VALE ESTE - Linha do tempo - Gabriel García Márquez (Foto: G1)
Obra-prima de García Márquez, "Cem anos de solidão" vendeu, até hoje, mais de 50 milhões de exemplares. É considerado, ao lado de “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, um dos livros mais importantes da literatura em língua espanhola. Foi traduzido para 35 idiomas. Exemplo máximo do realismo fantástico – gênero característico do boom latino-americano da segunda metade do século XX –, “Cem anos de solidão” se passa na fictícia aldeia de Macondo e acompanha, ao longo de gerações, a saga da família Buendía.
Entre seus títulos mais conhecidos estão ainda “A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada”, “O outono do patriarca”, “Crônica de uma morte anunciada”, “Do amor e outros demônios”, “Memórias de minhas putas tristes” e “O amor nos tempos do cólera”.
“Foi a época em que fui quase completamente feliz. Gostaria que minha vida tivesse sido como naqueles anos em que escrevi ‘O amor nos tempos do cólera’”, afirmou García Márquez ao “New York Times” três anos após a publicação de “O amor nos tempos do cólera”. Aqui, o autor resgata a verdadeira história da paixão de seu pai, também Gabriel, por Luiza, sua mãe. O pai dela reprovava a relação e conspirava contra. No livro, o casal se chama Florentino e Fermina. “Todas essas coisas para mim são parte da nostalgia. Nostalgia é uma fonte incrível para inspiração literária, para inspiração poética”, comentou na mesma entrevista ao “New York Times”.

Márquez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra. Foi o primeiro colombiano e quarto latino-americano a receber o prêmio, e, na ocasião, agradeceu com um discurso intitulado “A solidão na América Latina”.

“El Gabo”, como era conhecido na América Latina, continuou escrevendo até o final da década de 90, mas seu trabalho foi reduzido a partir de 1999, quando recebeu o diagnóstico de um câncer linfático. Em 2002, ainda em tratamento, publicou sua autobiografia, “Viver para contar”. A aposentadoria oficial do escritor foi anunciada em 2009 por agentes literários.
García Márquez casou-se com Mercedes Barcha Pardo em 1958, e no ano seguinte nasceu o primeiro filho do casal, Rodrigo. Roteirista e diretor de TV e cinema, Rodrigo García dirigiu filmes como “Questão de vida” e “Albert Nobbs” e episódios de diversas séries, como “Família Soprano” e “A sete palmos”, além de ser o criador da adaptação americana da série “In treatment”. O seriado israelense ganhou versões em diversos países, incluindo o Brasil, onde recebeu o nome de “Sessão de terapia” e foi produzida pelo canal GNT. Nascido em 1962, no México, o filho mais novo do escritor, Gonzalo, é designer gráfico.

Do G1, em São Paulo

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