ESCOLA LITERÁRIA ROMANTISMO(alunos do segundo ano)
Origens do Romantismo
O termo romantismo pode apresentar uma série de significações: romant ou romaunt; língua românica ou neo-latina; narrativas escritas nesta língua; narrativas em geral; oposição ao termo Classicismo (romântico x clássico); movimento cultural e estético da primeira metade do século XIX; atualmente, sentimentalismo.
O Romantismo, apesar de estar relacionado aos sentimentos, refere-se à arte. As significações mais adequadas, das citadas acima, seriam "oposição ao termo Classicismo (romântico x clássico)" e "movimento cultural e estético da primeira metade do século XIX".
Provavelmente tem seu início na Escócia, Inglaterra e Alemanha, países europeus mais desenvolvidos, mas é na França, a partir do fim do século XVIII, mais precisamente a partir da Revolução Francesa de 1789, que o novo movimento ganha proporções revolucionárias.
Um caso interessante foi o do poeta escocês James Macpherson que, para obter prestígio, dizia psicografar poemas de Ossian — poeta clássico, do século V a.C., que cultivava a oralidade da linguagem, o apego à natureza e os sentimentos, de onde surgiu o termo Ossianismo.
Na Alemanha, destaca-se a obra romântica Werther, de Göethe e, na Inglaterra, sobressaem-se os poetas Samuel Taylor, Coleridge, Shelley, Lord Byron e Wordsworth.
O Romantismo e o Classicismo
O Romantismo é um amplo movimento, que surgiu no século passado, e representa, na literatura e na arte em geral, os anseios da classe burguesa, que, na época, estava em ascensão. A literatura, portanto, abandona a aristocracia para caminhar ao lado do povo, da cultura leiga. Por esse motivo, acaba por ser também uma oposição ao Classicismo.
O Arcadismo — também conhecido como Neoclassicismo —, foi uma arte revolucionária, porque defendia os interesses da burguesia, classe social que promoveria a Revolução Francesa posteriormente. Todavia, identificava-se mais com a aristocracia, formada pela nobreza e pelo clero, já que, quanto ao aspecto estético, limitou-se a eliminar os exageros do Barroco e a retomar os modelos do Classicismo do século XVI.
Ao Romantismo, cabe a tarefa de criar uma linguagem nova, uma nova visão de mundo, identificada com os padrões simples de vida da classe média e da burguesia. Enquanto o Classicismo observava a realidade objetiva, exterior, e a reproduzia do mesmo modo, através de um processo mimético, sem deformar a realidade, o Romantismo deforma a realidade que, antes de ser exposta, passa pelo crivo da emoção.
A arte romântica inicia uma nova e importante etapa na literatura, voltada aos assuntos de seu tempo — efervescência social e política, esperança e paixão, luta e revolução — e ao cotidiano do homem burguês do século XIX; retrata uma nova atitude do homem perante si mesmo. O interesse dessa nova arte está voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a simplicidade, opondo-se, desse modo, à arte clássica que cultivava a razão.
A arte, para o romântico, não pode se limitar à imitação, mas ser a expressão direta da emoção, da intuição, da inspiração e da espontaneidade vividas por ele na hora da criação, anulando, por assim dizer, o perfeccionismo tão exaltado pelos clássicos. Não há retoques após a concepção para não comprometer a autenticidade e a qualidade do trabalho.
Esses artistas vivem em busca de fortes emoções e aventuras na tentativa de colher experiências novas e criadoras. Alguns chegam até a se envolver com o alcoolismo e drogas ou com um sentimento de pessimismo, enquanto outros participam de lutas sociais.
O conceito grego de belo na arte, tão defendido pelos clássicos, que eliminavam as notas destoantes e apresentavam uma obra depurada, é abandonado pelos românticos, os quais passam a defender a união do grotesco e do sublime, ou seja, do feio e do bonito, assim como são as coisas na vida real. O Romantismo marca uma importante mudança de postura na arte — a proximidade maior entre a vida e a obra, e entre a obra e a realidade.
Nenhum movimento literário-artístico foi tão rebelde e revolucionário como o romântico, em que a regra maior é a inspiração individual. Aliás, os gêneros literários rígidos faziam lembrar a hierarquia social, anterior à Revolução Francesa. O Romantismo surge com o liberalismo, filosofia que promove o eu individual, divulgada pela Revolução Francesa, cujos ideais eram: a liberdade, aigualdadee a fraternidade.
Enquanto a Revolução Francesa chega ao poder, quebrando a hierarquia social e destruindo a aristocracia, o Romantismo destrói as regras e as formas preestabelecidas, abandonado a elite e chegando ao povo.
Sumariamente, pode-se estabelecer alguns pontos fundamentais e contraditórios entre o Romantismo e o Classicismo, na verdade cultivado pela escola anterior à arte romântica, isto é, pelo Arcadismo (ou Neoclassicismo). São eles:
CLASSICISMO ROMANTISMO
razão emoção
mimesis; imitação da realidade teoria expressiva; expressão do próprio eu
objetividade subjetividade
universalismo (o mundo) individualismo (o eu)
Amor (extratemporal, extra-espacial, universal) "meu amor"
imitação de modelos (formas fixas) inspiração ou liberdade criativa
realidade objetiva (mundo exterior) realidade subjetiva (mundo interior)
equilíbrio contradição
ordem reformismo
Características da linguagem romântica
Além das características já observadas, há outras que merecem destaque ou ser vistas com maior aprofundamento:
subjetivismo: o romântico quer retratar em sua obra uma realidade interior e parcial. Trata os assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o que sente, aproximando-se da fantasia.
idealização: motivado pela fantasia e pela imaginação, o artista romântico passa a idealizar tudo; as coisas não são vistas como realmente são, mas como deveriam ser segundo uma ótica pessoal. Assim, a pátria é sempre perfeita; a mulher é vista como virgem, frágil, bela, submissa e inatingível; o amor, quase sempre, é espiritual e inalcançável; o índio, ainda que moldado segundo modelos europeus, é o herói nacional.
sentimentalismo: exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é permitido. Certos sentimentos, como a saudade (saudosismo), a tristeza, a nostalgia e a desilusão, são constantes na obra romântica.
egocentrismo: cultua-se o "eu" interior, atitude narcisista, em que o individualismo prevalece; microcosmos (mundo interior) X macrocosmos (mundo exterior).
liberdade de criação: todo tipo de padrão clássico preestabelecido é abolido. O escritor romântico recusa formas poéticas, usa o verso livre e branco, libertando-se dos modelos greco-latinos, tão valorizados pelos clássicos, e aproximando-se da linguagem coloquial.
medievalismo: há um grande interesse dos românticos pelas origens de seu país, de seu povo. Na Europa, retornam à Idade Média e cultuam seus valores, por ser uma época obscura. Tanto é assim que o mundo medieval é considerado a "noite da humanidade"; o que não é muito claro, aguça a imaginação, a fantasia. No Brasil, o índio representa o papel de nosso passado medieval e vivo.
pessimismo: conhecido como o "mal-do-século". O artista se vê diante da impossibilidade de realizar o sonho do "eu" e, desse modo, cai em profunda tristeza, angústia, solidão, inquietação, desespero, frustração, levando-o, muitas vezes, ao suicídio, solução definitiva para o mal-do-século.
escapismo psicológico: espécie de fuga. Já que o romântico não aceita a realidade, volta ao passado, individual (fatos ligados ao seu próprio passado, a sua infância) ou histórico (época medieval).
condoreirismo: corrente de poesia político-social, com grande repercussão entre os poetas da terceira geração romântica. Os poetas condoreiros, influenciados pelo escritor Victor Hugo, defendem a justiça social e a liberdade.
byronismo: atitude amplamente cultivada entre os poetas da segunda geração romântica e relacionada ao poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar um estilo de vida e uma forma particular de ver o mundo; um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do sexo. Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, por vezes, satânica.
religiosidade: como uma reação ao Racionalismo materialista dos clássicos, a vida espiritual e a crença em Deus são enfocadas como pontos de apoio ou válvulas de escape diante das frustrações do mundo real.
culto ao fantástico: a presença do mistério, do sobrenatural, representando o sonho, a imaginação; frutos da pura fantasia, que não carecem de fundamentação lógica, do uso da razão.
nativismo: fascinação pela natureza. O artista se vê totalmente envolvido por paisagens exóticas, como se ele fosse uma continuação da natureza. Muitas vezes, o nacionalismo romântico é exaltado através da natureza, da força da paisagem.
nacionalismo ou patriotismo: exaltação da Pátria, de forma exagerada, em que somente as qualidades são enaltecidas.
luta entre o liberalismo e o absolutismo: poder do povo X poder da monarquia. Até na escolha do herói, o romântico dificilmente optava por um nobre. Geralmente, adotava heróis grandiosos, muitas vezes personagens históricos, que foram de algum modo infelizes: vida trágica, amantes recusados, patriotas exilados.
O Romantismo no Brasil
O Romantismo nasce no Brasil poucos anos depois de nossa independência política. Por isso, as primeiras obras e os primeiros artistas românicos estão empenhados em definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o passado histórico, as diferenças regionais, a religião, etc. Pode-se dizer que o nacionalismo é o traço essencial que caracteriza a produção de nossos primeiros escritores românticos, como é o caso de Gonçalves Dias.
"Tudo pelo Brasil, e para o Brasil"
(Gonçalves de Magalhães)
A história do Romantismo no Brasil confunde-se com a própria história política brasileira da primeira metade do século passado. Com a invasão de Portugal por Napoleão, a Coroa portuguesa muda-se para o Brasil em 1808 e eleva a colônia à categoria de Reino Unido, ao lado de Portugal e Algarves.
Neste período ocorreu pelo mundo duas importantes revoluções: a Revolução Francesa, e a Revolução Americana. Essas foram revoltas do povo, da burguesia; assim como o Romantismo, que, conforme um historiador, foi "da burguesia, pela burguesia, e para a burguesia".
As conseqüências desse fato são inúmeras. A vida brasileira altera-se profundamente, o que de certa forma contribui para o processo de independência política da nação. Dentre essas conseqüências, "a proteção ao comércio, à indústria, à agricultura; as reformas do ensino, criações de escolas de nível superior e até o plano, que se realizou, de criação de uma universidade; as missões culturais estrangeiras, convidadas e aceitas pela hospitalidade oficial, no setor das artes e das ciências; as possibilidades para o comércio do livro; a criação de tipografias, princípios de atividade editorial e da imprensa periódica; a instalação de biblioteca pública, museus, arquivos; o cultivo da pela oratória religiosa e das representações cênicas".
O ciclo da mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra, onde buscam soluções para os problemas brasileiros. O Brasil de então nem chegava perto da formação social dos países industrializados da Europa (burguesia/proletariado). A
estrutura social do passado próximo (aristocracia/escravo) ainda prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador José de Nicola, "o ser burguês ainda não era uma posição econômica e social, mas mero estado de espírito, norma de comportamento".
A dinamização da vida cultural da colônia e a criação de um público leitor (mesmo que, inicialmente, de jornais) criam algumas das condições necessárias para o florescimento de uma literatura mais consistente e orgânica do que eram as manifestações literárias dos séculos XVII e XVIII.
A Independência política, de 1822, desperta na consciência de intelectuais e artistas nacionais a necessidade de criar uma cultura brasileira identificada com suas próprias raízes históricas, lingüísticas e culturais.
A literatura romântica expressa uma ligação com o movimento libertador de 1822, um desejo de construir uma pátria nova, de criar uma literatura nacional. Segundo Karl Menheim, o “Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza decadente e a pequena burguesia em ascensão”. Daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que caracterizam o Romantismo.
O Romantismo, além de seu significado primeiro — o de ser uma reação à tradição clássica —, assume e. nossa literatura a conotação de um movimento anticolonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição à literatura produzida na época colonial, em virtude do apego dessa produção aos modelos culturais portugueses.
Portanto, um dos traços essenciais de nosso Romantismo é o nacionalismo, que orientará o movimento e lhe abrirá um rico leque de possibilidades a serem exploradas. Dentre elas se destacam: o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e lingüística, além da crítica aos problemas nacionais — todas elas posturas comprometidas com o projeto de construção de uma identidade nacional.
Tradicionalmente se tem apontado a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades(l836), de Gonçalves de Magalhães, como o marco inicial do Romantismo no Brasil. A importância dessa obra reside muito mais nas novidades teóricas de seu prólogo, em que Magalhães anuncia a revolução literária romântica, do que propriamente na execução dessas teorias. Ele publica também no mesmo ano (1836) na França a "Niterói" - Revista Brasiliense, da qual circularam apenas dois números, em Paris. Nela, ele publica o "Ensaio sobre a história da literatura brasileira", considerado o nosso primeiro manifesto romântico. Essa escola literária só teve seu marco final no ano de 1881, quando foram lançados os primeiros romances de tendência naturalista e realista, como "O mulato", de Aluízio Azevedo, e "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. Manifestações do movimento realista, aliás, já vinham ocorrendo bem antes do início da decadência do Romantismo, como, por exemplo, o liderado por Tobias Barreto desde 1870, na Escola de Recife.
As gerações do Romantismo
Tradicionalmente se têm apontado três gerações de escritores românticos. Essa divisão, contudo, engloba principalmente os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras podem apresentar traços de mais de uma geração.
Assim, as três gerações de poetas românticos brasileiros são:
Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa. Marcada pela busca de uma identidade nacional, pela exaltação da natureza. Volta ao passado histórico, medievalismo e criação do herói nacional. Trata-se dos primeiros passos do Romantismo no Brasil, daí a produção de textos, com alguns resquícios do movimento anterior (Neoclassicismo), principalmente na obra literária de Gonçalves de Magalhães. Gonçalves Dias já é um poeta mais romântico. A sua obra veio solidificar o nascente movimento. Entre os principais autores podem ser destacados Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre. A geração nacionalista é impulsionada pelos valores nacionais, introduz e solidifica o Romantismo no Brasil.
Segunda geração: marcada pelo "mal do século", influenciada pela poesia de Lord Byron e Musset, apresenta egocentrismo exacerbado, negativismo boêmio, pessimismo, satanismo, atração pela morte dúvida, intimista, desilusão adolescente e tédio constante. Destacam-se os poetas Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. Essa geração é conhecida também por Ultra-Romantismo, devido à forte influência byroniana. Toda a produção dessa fase está excessivamente voltada para os sentimentos pessoais do artista, sendo a fuga da realidade, o pessimismo e o desencanto pela vida fatores importantes da temática romântica. Além das mencionadas acima, há ainda o determinismo, vítimas de destino, melancolia, desejo de evasão, recordação de um passado longínquo, que não tiveram, cansaço da vida antes de tê-la vivido.
Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político, social e libertadora. A maior expressão desse grupo é Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade. Essa última geração — condoreira — vive um clima de intensa agitação interna: Guerra do Paraguai, lutas abolicionistas, propaganda republicana. Diferentemente da segunda, possui muitos elementos que vão desaguar no movimento posterior (o realismo poético). Todavia, nessa fase ainda predominam algumas idéias byronianas, misturadas com o desejo de transformação social. Essa geração considera ter o poeta uma missão. O poeta torna-se o porta-voz das aspirações sociais e seus versos são armas usadas nas lutas liberais. Sofreu forte influência de Victor Hugo e sua poesia político-social. O termo condoreirismo é conseqüência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor.
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O Romantismo brasileiro contou com um grande número de escritores, com uma vasta produção, que, em resumo, pode ser assim apresentada:
na lírica: Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Álvares de Azevedo, Cardoso de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire, Castro Alves e Sousândrade, dentre outros.
na épica: Gonçalves Dias e Castro Alves.
no romance: José de Alencar, Manoel Antônio de Almeida, Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay, Franklin Távora e outros.
no conto: Álvares de Azevedo.
no teatro:Martins Pena, José de Alencar, Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e outros.
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TIPOS DE ROMANCE
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Estudos Literários
A classificação dos tipos de romances é um tanto confusa pelo simples fato de dependerem de pontos de vista. Por isso todas são passíveis de discussão. Nosso objetivo não é discutir o problema, nem os pontos de vista dos estudiosos do assunto, mas, sim, apresentar os tipos como referenciais para pesquisas mais profundas. Assim, relaciono abaixo, apenas alguns, de acordo com o tipo de abordagem (tema principal), conforme pesquisas feitas em diversas fontes:
1. O Romance Urbano tem como principal característica retratar e criticar os costumes da sociedade. Daí, historicamente, ser sinônimo de romance realista, especialmente no século XIX. Um de seus principais representantes é Thomas Hardy, autor de Judas, o Obscuro (Jude the Obscure, 1896). A fórmula do romance francês conquistou adeptos importantes em todas as literaturas e é nesse estilo que o romance urbano chega ao Brasil. Seu introdutor foi Joaquim Manoel de Macedo, quando em 1844, publica A Moreninha, um romance adaptado ao nosso cenário, retratando os costumes, as manias, e as mediocridades da sociedade carioca da época. A descrição desses costumes (festas e tradições), a caracterização do espaço urbano, deu a obra também um valor documental. Outros representantes foram José de Alencar, Senhora, Lucíola; Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias; Érico Veríssimo, Clarissa, Olhai os Lírios dos Campos; para só citar esses nomes.
2. O Romance Sertanejo ou Regionalista (tipicamente brasileiro) aborda questões sociais a respeito de determinadas regiões do Brasil, destacando suas características. Foi a atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior, que fizeram os autores românticos se interessarem pela vida e hábitos das populações que viviam distantes das cidades. Bernardo Guimarães foi um dos iniciadores do regionalismo romântico com a publicação de O Ermitão de Muquém (1869), seguido por Visconde de Taunay e Franklin Távora. Uma safra de bons escritores continuou a retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais. Por exemplo: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Érico Veríssimo, Jorge Amado, entre outros.
3. O Romance Histórico surgiu no início do século XIX, e tinha como característica a reconstrução dos costumes, da fala e das instituições do passado. Para tanto, servia-se de enredo fictício e a mistura de personagens históricos e de ficção O primeiro romance histórico da literatura universal foi Waverley (1814), de Sir Walter Scott; mas o que serviu de modelo a todos os outros, foi O Coração de Midlothian (The Heart of Midlothian, 1818) do mesmo autor. O maior de todos os romances históricos foi Guerra e Paz (Voina i mir, 1869), de Tolstoi. Do romance histórico derivou-se o subgênero chamado "romance de capa e espada", cujo mestre foi o francês Alexandre Dumas, autor de Os Três Mosqueteiros (Les Trois Mousquetaires, 1844). No Brasil, foi um dos principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história, numa revalorização e idealização de nosso passado. Nessa linha, os autores mais importantes são: José de Alencar, As Minas de Prata, A guerra dos Mascates; Bernardo Guimarães, Lendas e Romances, Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais; Franklin Távora, O Matuto, Lourenço. Atualmente nosso o romance histórico, consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica como em Agosto, de Rubem Fonseca, que expõe os acontecimentos políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; Olga, de Fernando Morais que retrata a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio; para só citar esses.
4. O Romance Indianista traz o índio e os costumes indígenas, como foco literário. Considerado uma autêntica expressão da nacionalidade, o índio era altamente idealizado. Como um símbolo da pureza e da inocência, representava o homem não corrompido pela sociedade, o não capitalista, além de assemelhar-se aos heróis medievais, fortes e éticos. O indianismo fez de certos romances excelentes documentos históricos. José de Alencar é o nosso mais representativo autor indianista, como nos provam os dois melhores romances que escreveu, O Guarani e Iracema (a mais bela lenda indígena transformada em prosa). Mais modernamente, o indianismo é visível em Macunaína, de Mário de Andrade; Cobra Norato, de Raul Bopp e Martin Cerrerê, de Casiano Ricardo.
5. O Romance Psicológico prefere perscrutar e analisar os motivos íntimos das decisões e indecisões humanas. O primeiro exemplo perfeito do gênero foi: As ligações Perigosas (Les Liaisons Dangereuses, 1782), de Choderlos Laclos. Entretanto, o prestígio do romance psicológico só chegou ao auge por volta de 1880, quando Stendhal foi redescoberto e Dostoievski traduzido. Deste último, Crime e Castigo (Prestuplenie i Nakazanie, 1866) é uma das obras-primas do gênero. Na Literatura Brasileira o romance psicológico tem seu marco inicial com Dom Casmurro, de Machado de Assis. Outros romances foram: Perto do Coração Selvagem e Laços de Família, de Clarice Lispector; São Bernardo, de Graciliano Ramos; A Menina Morta Cornélio Pena; Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso; entre outros.
6. O Romance Gótico surgiu como uma reação ao racionalismo iluminista e, ao mesmo tempo, ao aristocratismo. Foi cultivado, sobretudo na Inglaterra e caracterizou-se pelo vivo interesse na Idade Média: a beleza da arquitetura gótica, as sociedades secretas, a Inquisição, e os monges. Geralmente, é ambientado em cenário lúgubre e desolado: conventos, castelos assombrados, cemitérios. Aborda toda série de horrores, mistérios terrificantes, torturas etc. A Alemanha produziu um dos mais conhecidos romances góticos: As Drogas do Diabo (Elixiren des Teufels, 1816) de Hoffmann. Nos Estados Unidos, o gênero foi representado por Charles Brockden Brown, que influenciou os contos de horror de Edgar Allan Poe. Na Inglaterra, Mary Shelley, que escreveu Frankenstein (1818), em que já aparecem elementos de ficção científica. No Brasil, Álvares de Azevedo (1831-1852), nos deixou muitos poemas, contos e peças teatrais com ingredientes que o tornam o mais representativo autor brasileiro da literatura gótica. A Lira dos Vinte Anos (1853) e a coletânea de contos A Noite na Taverna (1855), publicados após sua morte, é considerado o que há de mais gótico na literatura brasileira.(RECANTO DAS LETRAS)
Ajudaram na elaboração deste estudo: Massaud Moisés. Tipos de Romance, in A Criação Literária, São Paulo, Melhoramentos, 1973, pp. 293-295.
Carlos Ceia, s.v. "Romance", E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9.
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
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