Modernismo em Portugal e Fernando Pessoa


MODERNISMO EM PORTUGAL
I – CONTEXTO HISTÓRICO

As primeiras manifestações modernistas começaram a surgir no período compreendido entre as duas guerras mundiais, período marcado por profundas transformações político-sociais em toda a Europa, não só em Portugal.

Didaticamente, oModernismo português tem início em 1915, com o lançamento do primeiro número daRevista Orpheu, revista que, inspirada pelos movimentos da Vanguarda Européia, desejava romper com o convencionalismo, com as idealizações românticas, chocando a sociedade da época.
Vários artistas participaram da elaboração da revista, entre eles
destacaram-se:Fernando Pessoa,Mário de Sá-Carneiro eAlmada
Negreiros. Os escritores doOrfismo, como ficaram conhecidos,
queriam imprimir à literatura portuguesa as inovações européias.


http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/album.php?uid=6493


Anos depois, em 1927, outra importante revista passa a ser divulgadora dos novos ideais modernistas – ARevista Presença, que teve como maior representante, o escritorJosé Régio



Biografia de Fernando Pessoa
Escritor português, nasceu a 13 de Junho, numa casa do Largo de São Carlos, emLisboa. Aos cinco anos morreu-lhe o pai, vitimado pela tuberculose, e, no ano seguinte,o irmão, Jorge. Devido ao segundo casamento da mãe, em 1896, com o cônsulportuguês em Durban, na África do Sul, viveu nesse país entre 1895 e 1905, aí seguindo, no Liceu de Durban, os estudos secundários.Frequentou, durante um ano, uma escola comercial e a Durban High School e concluiu,ainda, o «Intermediate Examination in Arts», na Universidade do Cabo (onde obteve o«Queen Victoria Memorial Prize», pelo melhor ensaio de estilo inglês), com queterminou os seus estudos na África do Sul. No tempo em que viveu neste país, passouum ano de férias (entre 1901 e 1902), em Portugal, tendo residido em Lisboa e viajadopara Tavira, para contactar com a família paterna, e para a Ilha Terceira, onde vivia afamília materna. Já nesse tempo redigiu, sozinho, vários jornais, assinados comdiferentes nomes.De regresso definitivo a Lisboa, em 1905, frequentou, por um período breve (1906-1907), o Curso Superior de Letras. Após uma tentativa falhada de montar umatipografia e editora, «Empresa Íbis

Tipográfica e Editora», dedicou-se, a partir de1908, e a tempo parcial, à tradução de correspondência estrangeira de várias casascomerciais, sendo o restante tempo dedicado à escrita e ao estudo de filosofia (grega ealemã), ciências humanas e políticas, teosofia e literatura moderna, que assimacrescentava à sua formação cultural anglo-saxónica, determinante na suapersonalidade.Em 1920, ano em que a mãe, viúva, regressou a Portugal com os irmãos e em queFernando Pessoa foi viver de novo com a família, iniciou uma relação sentimental com

Ophélia Queiroz (interrompida nesse mesmo ano e retomada, para rápida edefinitivamente terminar, em 1929) testemunhada pelas Cartas de Amor de Pessoa,organizadas e anotadas por David Mourão-Ferreira, e editadas em 1978. Em 1925,ocorreria a morte da mãe. Fernando Pessoa viria a morrer uma década depois, a 30 deNovembro de 1935 no Hospital de S. Luís dos Franceses, onde foi internado com umacólica hepática, causada provavelmente pelo consumo excessivo de álcool. Levando uma vida relativamente apagada, movimentando-se num círculo restrito deamigos que frequentavam as tertúlias intelectuais dos cafés da capital, envolveu-se nasdiscussões literárias e até políticas da época. Colaborou na revista A Águia, daRenascença Portuguesa, com artigos de crítica literária sobre a nova poesia portuguesa,imbuídos de um sebastianismo animado pela crença no surgimento de um grande poetanacional, o «super-Camões» (ele próprio?). Data de 1913 a publicação de «Impressõesdo Crepúsculo» (poema tomado como exemplo de uma nova corrente, o paúlismo,designação advinda da primeira palavra do poema) e de 1914 o aparecimento dos seustrês principais heterónimos, segundo indicação do próprio Fernando Pessoa, em cartadirigida a Adolfo Casais Monteiro, sobre a origem destes.Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro (seu dilecto amigo, com o qual trocou intensacorrespondência e cujas crises acompanhou de perto), Luís de Montalvor e outrospoetas e artistas plásticos com os quais formou o grupo «Orpheu», lançou a revistaOrpheu, marco do modernismo português, onde publicou, no primeiro número, Opiárioe Ode Triunfal, de Campos, e O Marinheiro, de Pessoa ortónimo, e, no segundo, ChuvaOblíqua, de Fernando Pessoa ortónimo, e a Ode Marítima, de Campos. Publicou, aindaem vida, Antinous (1918), 35 Sonnets (1918), e três séries de English Poems(publicados, em 1921, na editora Olisipo, fundada por si). Em 1934, concorreu comMensagem a um prémio da Secretaria de Propaganda Nacional, que conquistou nacategoria B, devido à reduzida extensão do livro. Colaborou ainda nas revistas Exílio(1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926, de que foi co-director eonde publicou O Banqueiro Anarquista, conto de raciocínio e dedução, e o poema MarPortuguês), Athena (1924-1925, igualmente como co-director e onde foram publicadasalgumas odes de Ricardo Reis e excertos de poemas de Alberto Caeiro) e Presença.

Figura cimeira da literatura portuguesa e da poesia europeia do século XX, se o seuvirtuosismo é, sobretudo inicialmente, uma forma de abalar a sociedade e a literaturaburguesas decrépitas (nomeadamente através dos seus «ismos»: paúlismo,interseccionismo, sensacionismo), ele fundamenta a resposta revolucionária àconcepção romântica, sentimentalmente metafísica, da literatura. O apagamento da suavida pessoal não obviou ao exercício activo da crítica e da polémica em vida, esobretudo a uma grande influência na literatura portuguesa do século XX. Existe presentemente, em Lisboa, a Casa Fernando Pessoa, instalada na última moradado autor. 13 de Junho de 1888 - Nasce em Lisboa, às 3 horas da tarde, Fernando AntônioNogueira Pessoa.1896 - Parte para Durban, na África do Sul.1905 - Regressa a Lisboa1906 - Matricula-se no Curso Superior de Letras, em Lisboa1907 - Abandona o curso.1914 - Surge o mestre Alberto Caeiro. Fernando Pessoa passa a escrever poemas dostrês heterónimos.1915 - Primeiro número da Revista "Orfeu". Pessoa "mata" Alberto Caeiro.1916 - Seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.1924 - Surge a Revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.1926 - Fernando Pessoa requer patente de invenção de um Anuário Indicador Sintético,por Nomes e Outras Classificações, Consultável em Qualquer Língua. Dirige, com seucunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.1927 - Passa a colaborar com a Revista "Presença".1934 - Aparece "Mensagem", seu único livro publicado.30 de Novembro de 1935 - Morre em Lisboa, aos 47 anos.



Fernando Pessoa é a grande figura da produção modernista em Portugal. Mas
por que será que essa imagem tem o autor ao centro com três sombras ao redor?

Pessoa criou vários heterônimos que apresentavam características particulares e que por isso escreviam textos bem diversos. Mas o que é umheterônimo? É um desdobramento da própria personalidade do autor, é a criação de outras pessoas. Heterônimo é diferente de
pseudônimo, pois atinge uma maior complexidade, o pseudônimo é
apenas a criação de nomes fictícios para uma mesma pessoa,
heterônimo é mais que um nome diferente, é uma outra pessoa.
Veja esquematicamente o que significa o fenômeno da
heteronímia:
ORTÔNIMO– “Ele mesmo”
FERNANDO PESSOA
HETERÔNIMOS

*Alberto Caeiro
*Ricardo Reis
*Álvaro de Campos
Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como disse o
próprio escritor, várias foram as personagens que o acompanharam


desde a infância. Segundo ele sua tendência, sua necessidade era
multiplicar-se:

“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.

Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia, ou seja, tinham data e local de nascimento, profissão e diferentes visões de mundo.
Veja a imagem de um de seus heterônimos:
Ilustração de Almada Negreiros
Alberto Caeironasceu em 1989 e morreu tuberculoso em 1915, era um
homem simples do campo. Sua estatura era mediana, loiro, de olhos azuis, órfão e
estudou pouco, até o primeiro ano.

Seus textos são marcados pela ingenuidade e pela linguagem simples, seus versos são livres e falam do amor à natureza e à simplicidade da vida no campo. Recusa qualquer explicação filosófica sobre a vida. Caeiro pensa com os sentidos, não com a razão, para ele a felicidade reside em não pensar.
Identifique as características de Alberto Caeiro no próximo
fragmento de um de seus textos:
O Guardador de Rebanhos

“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz”.
Alberto Caeiro

Ricardo Reisnasceu em 1887, na cidade do Porto e era médico. Era baixo,
forte, moreno e um monarquista de formação.
Seus textos caracterizam-se pelo estilo erudito e clássico.
Enquanto Alberto Caeiro era sinônimo de sensibilidade,Ricardo Reis é

extremamente racional. Sua linguagem é rebuscada e complexa. Usa com muita freqüência a mitologia clássica, principalmente a máximas horacianas doCarpe Diem (“aproveite o momento”). Tinha plena consciência da brevidade da vida, o que lhe provocava muito sofrimento.
Identifique as características de Ricardo Reis no próximo
fragmento de um de seus textos:
Ode VI
“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes (...)”
Ricardo Reis



Álvaro de Campos
nasceu em outubro de 1890. Era engenheiro naval, alto,
magro, cabelos lisos e assemelhava-se a um judeu português.
Álvaro de Camposera o poeta do futuro, da velocidade, das

máquinas, do tempo presente, identificado com a Vanguarda Européia. Seus textos são contraditórios: ora marcados por uma grande energia, ora revelando a crise dos valores espirituais e a angústia do homem de seu tempo, inadaptado às condutas sociais Enquanto Alberto Caeiro pensava com os sentidos e Ricardo Reis com a razão, Álvaro de Campos, pensava com a emoção.
Veja suas características no próximo texto:
Lisbon revisited
“Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus! (...)”
Álvaro de Campos

A produção ortônima de Fernando Pessoa apresenta características bem diferentes das encontradas em seus heterônimos. Fernando Pessoa “ele-mesmo” expressa um profundo sentimento nacionalista e um apego à tradição portuguesa. Sua produção literária é comumente dividida em: lírica e épica. O livroM e n s a g e m é um exemplo da sua obra épica. Nele Fernando Pessoa, numa clara aproximação com Camões, vai falar dos grandes feitos portugueses, dos reis e da época das grandes navegações.
Veja um exemplo de sua obra lírica, através de um de seus
poemas mais conhecidos:
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Fernando Pessoa
Outra figura importante do Modernismo português éMário de Sá-
Carneiro, que como vimos, também fez parte do grupo de escritores

responsáveis pela publicação da Revista Orpheu em 1915. Ele era o responsável pela parte financeira da revista, tanto que após o seu suicídio, em 1916, com apenas 26 anos, e revista não circulou mais.

Seus textos são marcados por um forte sentimento de inadaptação ao mundo e por muito subjetivismo. Mário de Sá-Carneiro buscou compreender o porquê de sua existência, mas não o encontrou, acabando se perdendo nele mesmo.


Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus! (...)”
Álvaro de Campos
Veja agora a imagem deFernando Pessoa “ele mesmo”:
Ilustração de Almada Negreiros
Fernando Pessoafoi um dos escritores mais complexos da literatura

portuguesa. Começou a se destacar como escritor a partir de seus inúmeros artigos publicados sobre as novas tendências modernistas em Portugal. Mas foi graças a criação de seus heterônimos que ganhou notoriedade mundial.


Veja o seu texto mais famoso:
Dispersão

“Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
(...)

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro –
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.
(...)

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...
(...)

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço...”
Mário de Sá-Carneiro
Fonte scribd--professora Edna Prado

VÍDEOS SOBRE O TEMA

FONTE; YOU TUBE
















Fonte scribd--professora Edna Prado

Comentários

  1. pro pode ser esses videos q estão no blog de senhora. q na verdade ñ são filme e sim uma aula a respeito do assunto.

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